O livro começa com a unidade intitulada de “Na tua idade
eu também queria mudar o mundo” onde o autor critica a posição da sociedade em
definir que o sentimento de inconformismo é comum e passageiro a todos os
adolescentes. E que esse inconformismo desaparece no momento em que a crise é
superada e o adolescente passa para a etapa seguinte, se tornando um adulto
adaptado às regras e também aos padrões aparentemente imutáveis, aceitando as exigências
que lhe são impostas, marcado pela ausência de liberdade.
Na
segunda unidade intitulada “A metamorfose”, o autor dá ênfase às transformações
vivenciadas pelo adolescente, nesse período transitório entre a infância e a
fase adulta. Becker esclarece que as mudanças físicas podem ser consideradas
universais, porem as mudanças no nível psicológico podem variar de acordo com o
contexto. As transformações físicas são desencadeadas pelo fenômeno da
puberdade que é o período da vida em que o indivíduo se torna apto para a
procriação, adquirindo a capacidade física de exercer a função sexual madura.
Nesse período ocorrem eventos como o “estirão da adolescência” o aparecimento
dos “caracteres sexuais”, primeira menstruação na menina, aumento do pênis no
menino, e produção de espermatozoides.
Além
das mudanças físicas o autor fala nessa unidade sobre a mudança nas formas como
o adolescente lida com essas mutações que ocorrem em seu corpo. Explica ainda o
surgimento da capacidade de “raciocinar sobre o raciocínio” que representa o
surgimento do raciocínio abstrato na adolescência e aborda os conflitos
relacionados ao estabelecimento da sexualidade, valores morais que restringem a
atividade sexual, masturbação, homossexualidade, conceito de sexualidade
vendido pela mídia, falta de orientação sexual e as possíveis consequências da
não resolução desses conflitos, tais como gravidez na adolescência e aborto.
Para
falar dos aspectos emocionais e da sexualidade o autor utiliza se no decorrer
desta obra principalmente as teorias psicanalistas, de autores como Sigmund
Freud, Anna Freud e Erik Erikson a quem Becker atribui a expressão “crise na
adolescência”.
O
autor crítica a generalização de termos como agressividade e “depressão normal”
como sendo universal para todo e qualquer adolescente e destaca que a depressão
pode ocorre a partir das reflexões do adolescente sobre as vivências
interiores, e sua a partir da vivencia dos “lutos” que são reações a uma série
de “perdas” que ele sofre durante essa transição de criança para adulto. Becker,
ainda explica a busca do adolescente por sua identidade, os conflitos de
valores e as identificações dos adolescentes nesse período.
Ao
falar das drogas, o autor diferencia os quatro grupos de drogas psicoativas. E
destaca que essas drogas podem levar a dois tipos de dependência: a psicológica
e a física. Em sua obra Becker crítica a marginalização do usuário da maconha,
e defende a posição de que “a grande maioria dos adolescentes que a usam são “usuários
recreacionais”, ou seja, não viciados. Becker enfatiza ainda que há uma
preocupação da sociedade com a maconha e uma “tolerância” com o álcool, justificada
pelo fato do alcoolismo dar lucro ao sistema, ao contrário do consumo da
maconha.
Becker
destaca que é na adolescência com todas essas transformações, mudanças,
conflitos e “crises” que o adolescente se vê pressionado para a escolha de uma
profissão. Becker afirma que nessa fase o adolescente ainda não está preparado
para fazer essa escolha e que na maioria das vezes essa escolha é feita sem a
devida reflexão podendo levar ao erro e a frustração do indivíduo. O autor não
acredita na mobilidade social, e acredita que o filho de um trabalhador de
construção civil provavelmente também será trabalhador de construção civil, o
autor chega a afirmar que a ideia de um filho de pedreiro que se torna senador,
por exemplo, é uma “bela ilusão”.
Na
terceira unidade intitulada “Radiografia de uma visão: O lado avesso”, a
questão levantada e a de que as ideias e teorias sobre a adolescência não devem
ser generalizadas à ideologia, porque chegam aos jovens como verdades e eles
tendem a desqualificar sua própria emoção e seus pensamentos. A unidade discute
a assimilação da ideologia pelo adolescente, na construção de sua identidade. E
a formulação dessa ideologia pelo poder social dominante buscando o controle do
indivíduo, através da submissão e da alienação, para que ele possa reproduzir
os padrões de vida vigentes. O autor destaca que é fundamental que os jovens
utilizem da criatividade, da conscientização e do questionamento crítico para
trazer resoluções para as contradições, rompendo assim com a ideologia vigente
em busca de transformações e renovações.
Na
quarta unidade “Adolescência: quando, como e onde” Becker traz uma visão
histórico-social da adolescência, destacando que o conceito é bastante recente
e que esse é um fenômeno sociocultural. O autor compara a cultura ocidental com
a sociedade de Samoa. Destacando que em Samoa “o adolescente parece não
enfrentar conflitos morais, ideológicos, psicológicos e afirma que não existe
lá o que chamamos de crise da adolescência”.
Becker
também fala nessa unidade sobre a dificuldade que é para o adolescente encontrar
sua identidade em meio a esse mundo turbulento em que valores ultrapassados,
convivem com novos valores. O autor discute a escolha consciente, ou não, de
seguir a ideologia social dominante e reproduzir os padrões sócias impostos; e
o assumir de uma atitude de protesto, posições originais, e desviantes. Sendo
os últimos, base para a formação de um novo modo de vida. Por fim o autor
discute qual é o critério para determinar o fim da adolescência e critica a
definição de que um indivíduo se torna adulto quando alcança o seu perfeito
ajustamento à sociedade.
Na
unidade intitulada “Adolescência-aqui e agora”, Becker discute a necessidade
constante que a sociedade apresenta de estereotipar o adolescente e defende que
o universo da adolescência é bem mais amplo, e não se limita a esses
estereótipos.
Ao
falar dos dados estatísticos referentes aos adolescentes no Brasil, o autor os
divide em dois grandes grupos: os das camadas médias e altas urbanas e o
“resto” que segundo ele é constituído por jovens marginalizados na sociedade.
Em
seguida o autor fala dos movimentos sociais da juventude no mundo e no Brasil,
e compara as manifestações de protesto contra o sistema de décadas atrás as
manifestações da atualidade. O autor apresenta também uma estatística americana
relacionada ao aumento de suicídios em adolescente, e defende que a culpa não é
do adolescente, mas sim do sistema.
Becker
ainda afirma que “Milhões de adolescentes brasileiros são deficientes físicos e
mentais, não por doenças genéticas, mas simplesmente por miséria”. O autor
Defende que a sociedade precisa se dar conta do sofrimento dessas crianças, e
passar a respeitá-las e assisti-las, segundo ele não adianta se preocupar
somente com uma “massa de marginais no futuro”.
No
capitulo final intitulado “Por que Adolescência” Becker justifica a escolha do
tema, nesse momento afirma que a nossa cultura está vivendo uma “crise
adolescente”. Enfatiza a participação do adolescente nas transformações sociais
através da crítica e do questionamento. Becker destaca ainda que O conflito e a
dúvida costumam trazer muito sofrimento, mas o valor positivo deles pode ser
muito maior. Na conclusão de sua obra Becker dá ênfase ao privilégio que os
adolescentes possuem de poder escolher livremente, e de voltar caso necessário,
segundo ele o importante é participar das escolhas, e viver para o presente.
De
maneira geral o livro possui linguagem acessível, de fácil compreensão,
abrangendo o tema proposto com uma leitura agradável e que desperta o
interesse, mantendo o leitor “preso” do começo ao fim.