sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

HDA e Curva Vital - Perguntas que devem ser respondidas


A partir da leitura da HDA e da Curva Vital, deve ser possível responder as seguintes questões:

1)    Como era a paciente antes de adoecer?

2)    Como ficou a paciente depois de adoecer?


3)    Quando a paciente adoeceu?

4)    A paciente apresenta sintomas ou intensificação dos traços de personalidade?
(Sintomas: é um conjunto de comportamentos que a pessoa passa a apresentar em um momento de sua vida e que pouco tem a ver com a forma como ela era antes de adoecer, isto é, não tem a ver com a sua personalidade. Os sintomas podem ou não ser motivados.)
(Intensificação dos traços de personalidade: é quando a pessoa apresenta alguns comportamentos que são típicos do seu modo de funcionar, e que se intensificam em decorrência de fatores ambientais estressores, causando grandes prejuízos na vida da pessoa)

5)    O quadro é ou não é motivado?

6)    A paciente teve uma crise ou mais de uma crise?

7)    Qual o tempo de duração da crise ou de cada crise?

8)    Quais são os sintomas (ou traços de personalidade intensificados) da crise ou das crises?

9)    Como evoluiu o quadro da paciente? (A paciente apresenta períodos de crises intercalados com períodos de intercrises ou a paciente apresentou apenas uma crise e não saiu dela até hoje?)



10) Qual é o impacto dos sintomas ou da intensificação dos traços de personalidade na vida da paciente? (Trabalho, amigos, família, relacionamentos amorosos)

Como conduzir a entrevista para uma boa anamnese

Como deve ser: você deve direcionar as perguntas de tal forma que possibilite o paciente a descrever os sintomas com a maior riqueza de detalhes possíveis.
1ª pergunta: Que dia é hoje?
Objetivo: avaliar a orientação alopsíquica.

 2ª pergunta: Onde você está?
Objetivo: o mesmo da pergunta anterior.

3ª pergunta: Você pode falar o seu nome pra turma? (Se você achar que não tem necessidade, você pode pular essa pergunta)
Objetivo: avaliar a orientação autopsíquica.

O que o levou a ser internado na Pax?
Objetivo: identificar os sintomas desta internação
Talvez seja necessário mais de uma pergunta para identificar quais são os sintomas.

Uma vez identificado QUAIS são os sintomas você vai repetir, de forma sucinta, o que a paciente te disse e em seguida, você vai perguntar sobre o SINTOMA 1:

Perguntas sobre o SINTOMA 1:
Fulana de tal, a senhora me disse que antes desta internação você apresentou os SINTOMAS 1, 2, 3 e 4. Agora, eu gostaria de falar um pouco mais sobre o SINTOMA 1. Você pode me descrever melhor como é o SINTOMA 1? (Foque na internação atual)
Como você reage ao SINTOMA 1?
Qual é o impacto do SINTOMA 1 na sua relação com seus amigos, familiares e parceiros amorosos?
O que estava acontecendo na sua vida quando você teve o SINTOMA 1?
Qual é o impacto do SINTOMA 1 nas suas atividades diárias?
Você está tendo o SINTOMA 1 agora?

Perguntas do SINTOMA 2, 3, 4 ...: as mesmas do SINTOMA 1

Quando você terminar as perguntas do SINTOMA 1, você vai começar as do SINTOMA 2 da seguinte forma:

Fulana de Tal, você acabou de me falar muitas coisas sobre o SINTOMA 1. Durante suas respostas você me falou de outros comportamentos que a senhora teve: SINTOMA 2, 3 e 4. Eu gostaria de falar um pouco mais sobre o SINTOMA 2 agora. Você pode me descrever melhor como é o SINTOMA 2? (Foque na internação atual) (...)

Você deve fazer o mesmo com os sintomas 3 e 4.

Depois desta descrição da crise atual, você vai perguntar se teve alguma outra vez na vida da paciente em que ela apresentou comportamentos semelhantes aos sintomas 1, 2, 3 e 4.

Se ela disser que sim, você vai perguntar qual foi a primeira vez que ela apresentou esses comportamentos.

Agora você vai pesquisar quanto tempo que os sintomas duraram e a evolução dos mesmos.

Para finalizar a entrevista, pergunte à paciente o que ela pretende fazer ao sair da clínica.

DICAS:
1)    As perguntas devem seguir uma sequência lógica!!! (Se você fizer perguntas aleatórias, a entrevista vai ficar confusa e ninguém vai entender nada, muito menos você.)

2)    Lembre-se da pergunta que você fez!!! (Acontece de você fazer uma pergunta e o paciente te dar uma resposta muito longa. Quando isso acontece, a tendência é a de você esquecer a pergunta que você fez no começo e ai de duas uma: ou você vai ficar perdido sem saber o que perguntar pro paciente ou você vai fazer uma pergunta baseado na última coisa que o paciente te falou. As duas alternativas são ruins porque nestes dois casos quem está conduzindo a entrevista é o paciente)

Como não se esquecer da pergunta que você fez:
a)    Escreva em um papel uma palavra que resuma o objetivo da sua pergunta (Palavra-resumo).
Por exemplo:
Entrevistador: O que aconteceu que você está internado na Pax?
Objetivo da pergunta: saber os sintomas da crise atual

Palavra-resumo: SINTOMAS (Quais?)

b)    Quando a pessoa terminar de dar a resposta. Você vai olhar no papel a Palavra-resumo e se você ficar satisfeito com a resposta dada pelo paciente, então você vai riscar a palavra-resumo e já vai fazer outra pergunta que tenha a ver com os objetivos gerais da entrevista.

3)    Antes de começar a entrevista, faça um roteiro com as Palavras-Resumos. Ai você vai fazendo as perguntas baseado nessas palavras-resumos.

4)    Não deixe o paciente conduzir a entrevista.

5)    Reconduzir o paciente para a pergunta, caso este comece a falar sobre coisas que não tem a ver com o que foi perguntado.


Como reconduzir o paciente quando ele começa a dar a resposta e depois divaga: quando o paciente der uma pausa pra respirar, você confirma o caso que o paciente estava te contando e em seguida, você diz que fez a pergunta X pra ele, que ele deu a resposta B e que você gostaria de saber se tem mais alguma coisa que ele gostaria de falar relativo a pergunta X.

Por exemplo:
Entrevistador: Você me contou que você tem comprado muitas coisas nos últimos tempos, principalmente roupas, sapatos e presentes. O fato de você estar comprando muito tem trazido algum impacto na sua vida?
Paciente: Nossa! Demais, né? Com esse negócio de comprar muito eu comecei a ter dívidas, meu nome foi pro SPC, pra você ter uma noção. No começo a minha mãe estava me emprestando dinheiro, mas depois ela parou... eu já te falei como é a minha mãe? Ela sempre faz isso comigo, ela sempre me poda. A minha mãe implica comigo só porque eu sou mais bonita do que ela. Ela tem inveja de mim, sempre teve! Uma vez, quando eu era adolescente, ela começou a implicar com o meu cabelo e me obrigou a cortar o cabelo curtinho, igual de joaozinho, sendo que eu não queria... (pausa pra respirar)
Entrevistador: Entendi, Fulana. Você está falando que quando você era criança a sua mãe te obrigou a cortar o cabelo contra a sua vontade. De fato é muito ruim quando alguém nos obriga a fazer algo que a gente não quer fazer (Confirmação). Mas você se lembra que eu te perguntei se o fato de você estar comprando muito tem trazido algum impacto na sua vida? Então... você começou me dizendo que sim, que inclusive o seu nome foi parar no SPC. Tem mais algum impacto que você notou na sua vida após você ter começado a comprar muitas coisas?

Como conduzir o paciente que não dá a resposta e só divaga: Confirma o caso que o paciente está te contando e em seguida relembre a pergunta que foi feita. Se ele divagar de novo, tudo bem! Pelo menos ele agora sabe que está divagando, esta foi uma escolha dele e isso provavelmente é um sintoma ou tem a ver com algum sintoma dele. Nesse caso, deixe ele divagar um pouco e faça outra pergunta que seja relevante para compreender o quadro dele.

6)    O paciente vai te contar um monte de casos, não se perca nos casos!!! (Caso é tudo aquilo que ou não tem a ver com o quadro clínico do paciente ou até tem a ver, mas o paciente começa a dar detalhes irrelevantes.)
(Cuidado com os casos, principalmente quando eles despertarem interesse e curiosidade!!)

Por exemplo:

Entrevistador: Você me disse que nos últimos tempos você tem feito sexo com maior frequência e com parceiros sexuais diferentes. Com que frequência você tem feito sexo?

Paciente: Ahh... sabe como é, né? Eu costumo fazer sexo depois do expediente, depois das seis da tarde. Aí quando dá meia noite, eu já transei com uns quatro caras e já estou muito cansada. No dia seguinte, eu acordo pronta! Mas quer saber, às vezes, ao invés de usar minhas duas horas que eu tenho pra almoçar, eu uso esse tempo pra transar. Eu já até transei durante o expediente. Foi assim, o meu colega de trabalho, vivia dando em cima de mim, aí teve um dia que eu fui beber água e ele também foi, aí a gente se olhou e eu disse pra ele me encontrar na sala de depósitos da empresa. Aí nós fomos pra lá e... (Aqui já deu pra entender que a frequência é alta, não há necessidade de incentivá-la a prosseguir nessa resposta, até porque se deixar ela vai ficar a entrevista inteira te contando os casos e os detalhes de cada um deles, sendo que esses detalhes não vão te ajudar a compreender o quadro clínico dela).

7)    O paciente pode te contar um monte opiniões pessoais sobre vários assuntos. Não se percam nisso!!! (Principalmente se eles começarem a falar sobre um assunto que você tem muito interesse)
Exemplo:

Entrevistador: Você comentou que tinha algumas coisas que você sentia prazer em fazer e que agora já não sente mais. Quais coisas são essas?

Paciente: Ah, eu gostava muito de escutar música, tocar violão, sair com meus amigos, tomar uma cervejinha.. Ah... eu amava futebol! Domingo e quarta eram dias sagrados. Eu sempre assistia aos jogos. Mas nem disso eu tenho gostado ultimamente. Eu estou muito decepcionado com o futebol, a CBF não tem escrúpulos, eles só pensam em dinheiro. O futebol já não é mais jogado pelo prazer, mas sim pelo dinheiro. Os jogadores viraram produtos, os times viraram produtos... (Aqui já deu pra entender quais foram as coisas que ele perdeu o interesse. Se você deixar o paciente vai ficar a entrevista inteira falando sobre a opinião dele em relação ao futebol).

8)    Repetir de forma sucinta o que o paciente acabou de dizer pode ser uma boa técnica, principalmente nos seguintes casos:

a)    Quando o paciente se perde e começa a dar uma resposta muito longa e com muitas informações (nesse caso, quando você repete você ajuda o paciente a se organizar melhor em relação ao que ele acabou de dizer)
b)    Quando você ficar perdido na resposta do paciente (ai quando você repete, você pode organizar melhor suas ideias e, caso seja necessário, você pede para o paciente te descrever melhor aquilo que você não entendeu)


9)    Não entrevistem paciente em estado psicótico por um tempo maior do que o necessário. É muito importante entrevistar esse paciente, principalmente para você poder identificar quais são os sintomas que ele está apresentando, bem como as formas e os conteúdos dos mesmos. No entanto, é quase impossível entender a evolução do quadro do paciente só com a entrevista que você fez com ele. Nesses casos, ENTREVISTE OS FAMILIARES (de preferência mais de um). (Essa dica é válida para a entrevista feita com o paciente antes da apresentação do trabalho)

Como descrever a Curva Vital (Psiquiatria/Psicopatologia)

O que deve constar: a história de vida da paciente desde sua concepção até antes da mesma ter adoecido (EVOLUÇÃO PROCESSUAL). Isto é, a partir da curva vital eu terei condições de perceber como a paciente era antes de apresentar o quadro clínico dela.
No caso de pacientes com evolução episódica, então você deve escrever o texto desde a concepção do paciente até a sua penúltima crise.

Modelo de como escrever a Curva vital:
1º parágrafo (Tema: descrição da gestação, parto e desenvolvimento da paciente nos primeiros anos de vida):
a)    Como foi a gestação da Paciente (teve ou não intercorrências?)
b)    A paciente foi fruto de uma gravidez planejada?
c)    Parto normal ou cesárea?
d)    Houve complicações no parto?
e)    Engatinhou, andou e falou dentro do esperado?

2º parágrafo: (Tema: infância – escola)
a)    Quando começou a estudar?
b)    Teve dificuldades na escola?
c)    Como era seu relacionamento com os colegas?
d)    Como era seu relacionamento com os professores?
e)    Durante sua infância, aconteceu algum evento significativo dentro do contexto escolar? (Exemplo: reprovação, bullying, mudança de escola ...)

3º parágrafo: (Tema: infância – amigos)
a)    Tinha muitos amigos?
b)    Gostava de brincar?
c)    O que gostava de fazer nas horas vagas?

4º parágrafo: (Tema: infância - família)
a)    Tem irmãos?
b)    Seus pais são separados?
c)    Como é a relação da paciente com seus irmãos?
d)    E com os seus pais?
e)    Durante a infância da paciente aconteceu algum evento significativo dentro do contexto familiar? (Exemplo: morte de alguém da família, abuso sexual, separação dos pais...)

5º parágrafo: (Tema: adolescência - escola)
a)    Teve dificuldades na escola?
b)    Como era seu relacionamento com os colegas?
c)    Como era seu relacionamento com os professores?
d)    Durante sua adolescência, aconteceu algum evento significativo dentro do contexto escolar? (Exemplo: reprovação, bullying, mudança de escola ...)

6º parágrafo: (Tema: adolescência – amizades/ namoro)
a)    Tinha muitos amigos?
b)    O que gostava de fazer nas horas vagas?
c)    Quando iniciou sua vida sexual?
d)    Como eram suas relações afetivas?
e)    Durante sua adolescência, aconteceu algum evento significativo no campo das amizades ou dos relacionamentos afetivos?

7º parágrafo: (Tema: adolescência – família)
a)    Como é a relação da paciente com seus irmãos?
b)    E com os seus pais?
c)    Durante a adolescência da paciente aconteceu algum evento significativo dentro do contexto familiar? (Exemplo: morte de alguém da família, abuso sexual, separação dos pais...)

8º parágrafo adiante: você vai descrever os eventos significativos da paciente até momentos antes dela ter apresentado a sua primeira crise.

Observação: (Na evolução episódica, você vai descrever os outros episódios – se houver – bem como o período de intercrises).

Em abril de 2004 (início da crise), a paciente Fulana de Tal, com então 26 anos, passou a apresentar os seguintes comportamentos: dificuldade de dormir, angustia, pouco apetite, tristeza, vontade de só ficar na cama, desesperança e vontade de se matar (sintomas). Fulana de Tal comentou que estes comportamentos tiveram repercussões significativas em sua vida. No campo profissional a paciente relata que sua produtividade diminuiu, nos seus relacionamentos interpessoais, a paciente disse que não queria conversar com ninguém e que seus amigos e filhos se queixavam disso... (impacto dos sintomas na vida da paciente). Na época, a paciente relata que estava tendo problemas com o seu marido.... (contexto). A paciente afirmou que em maio de 2004 procurou tratamento psicoterápico e psiquiátrico e que em junho do mesmo ano ela já se sentia melhor, não apresentando mais os comportamentos descritos acima (duração da crise).
De junho de 2004 a setembro de 2007, a paciente relatou que seguiu tanto o tratamento medicamentoso quanto o psicoterápico e que trabalhou normalmente, tendo suas relações com seus amigos e filhos preservadas (evolução).
Em outubro de 2007, a paciente Fulana de Tal, com então 28 anos, passou a apresentar os seguintes comportamentos: falta de apetite, angustia, desesperança, tristeza, coração disparado, falta de ar, medo de sair de casa, vontade de se matar, vontade de só ficar na cama... (sintomas). Fulana de Tal comentou que estes comportamentos tiveram repercussões significativas em sua vida... (impacto dos sintomas na vida da paciente). Na época... (contexto)... A paciente disse que ficou assim de outubro a dezembro de 2007 ... (duração).

DICAS:
a)    Procure começar os parágrafos com datas (mês e ano) – assim fica mais fácil das pessoas entenderem a história.
b)    Sempre escreva os fatos e não a interpretação dos fatos. (Preocupe-se mais em descrever a história e não em explicá-la. Evite utilizar os termos: POR CAUSA, DEVIDO, PORQUE) Exemplo de interpretação: ... com cinco anos de idade, a paciente começou a apresentar estes comportamentos porque o avô abusou dela sexualmente... Exemplo de descrição: ... a paciente começou a apresentar estes comportamentos com cinco anos de idade. Na época, o avô começou a abusar sexualmente da paciente...
c)    A história deve ser escrita de forma cronológica!!! (Você deve começar a história do começo e contar os eventos na ordem cronológica em que eles foram acontecendo)
d)    A paciente teve algum problema orgânico que possa ter interferido em seu quadro clínico antes de ter adoecido pela primeira vez? (Exemplo: Traumatismo craniano? ...)
e)    Não focar em internações!!!!!!!!!!!!!!! – a paciente pode ter tido alguma crise sem ter sido internada.